Você sabe a diferença entre lixão e aterro sanitário?
Um dos erros mais comuns quando se fala em resíduos sólidos no Brasil é considerar que os termos ‘lixão’ e ‘aterro sanitário’ são sinônimos. É compreensível que esta confusão ocorra em algumas cidades, tendo em vista que os aterros muitas vezes foram instalados nas proximidades de onde antes havia lixões. Os dois locais, no entanto, possuem estruturas e propósitos muito diferentes, sendo praticamente antagônicos.
‘Lixões’, resumidamente, são simples depósitos de lixo sem qualquer cuidado com o solo e o meio ambiente, nem qualquer tipo de controle em relação ao material despejado lá. Ou seja, em um lixão, pode conter até mesmo materiais perigosos para a saúde humana, como descartes hospitalares e industriais. Também é comum a presença de animais como ratos, urubus e porcos, além de outros vetores de doenças, e, por isso mesmo, tendo que ser erradicados.
Para se ter uma ideia mais clara, podemos pegar como exemplo os EUA. Até meados do século XX, o país mais rico do mundo possuía quase 20 mil lixões espalhados por seu território. Por meio de uma política voltada para enfrentar o problema e que encarou de frente a questão da gestão de resíduos, os americanos conseguiram extinguir os lixões, substituindo-os por mais de 1,4 mil aterros sanitários regionalizados, que recebem os rejeitos de várias cidades cada.
“Os lixões surgiram junto com o nascimento das primeiras civilizações. Nunca se deu importância aos descartes de consumo. Isso vem desde a Idade Média. Todos os restos de comidas e de outras atividades eram descartados na rua, em algum local clandestino ou diretamente nos córregos. Eles simplesmente pegavam esses dejetos e afastavam das ocupações humanas”, explica o engenheiro Luís Sergio Akira Kaimoto.
De acordo com dados da Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (ABRELPE), o Brasil tem hoje mais de 3.000 lixões, contrariando a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), promulgada em agosto de 2010, que obriga os municípios a desativarem esses vazadouros ilegais e instalar aterros ambientalmente adequados. Segundo o Sindicato Nacional das Empresas de Limpeza Urbana (SELURB), o custo para remediar a poluição causada por esses lixões superaria R$ 730 bilhões nos últimos dez anos.
“Disposição final de Resíduos Sólidos Urbanos (RSU)
A disposição final de RSU registrou um índice de 59,1% do montante anual encaminhado para aterros sanitários. As unidades inadequadas como lixões e aterros controlados, porém, ainda estão presentes em todas as regiões do país e receberam mais de 80 mil toneladas de resíduos por dia, com um índice superior a 40%, com elevado potencial de poluição ambiental e impactos negativos à saúde (ABRELPE, 2017).”
O gráfico 1 nos mostra a disposição final de RSU no Brasil por tipo de destinação em toneladas por dia; o gráfico 2, a disposição final dos RSU coletados no Brasil em toneladas por ano, ambos comparando os anos de 2016 e 2017; e por fim, a tabela 1 nos mostra a quantidade de municípios por tipo de disposição adotada (lixão, aterro controlado e aterro sanitário):
Fonte: Panorama de resíduos sólidos ABRELPE, 2017.
Fonte: Panorama de resíduos sólidos ABRELPE, 2017.
Fonte: Panorama de resíduos sólidos ABRELPE, 2017.
“Aterro Controlado” é a fase intermediária entre o lixão e o aterro sanitário. É feita uma contenção do resíduo que é coberto por uma camada de argila e grama. É realizada a cobertura diária do resíduo. Também é realizada a recirculação do chorume que é coletado e levado para cima da pilha de resíduo, diminuindo a sua absorção pela terra. Porém não há impermeabilização nem sistema de tratamento do chorume, não sendo possível evitar contaminação do solo e do lençol d’água (VIASOLO, 2019), como demonstrado na figura abaixo:
Fonte: Viasolo Engenharia Ambiental, 2019.
Aterros sanitários são complexas estruturas planejadas para garantir que os resíduos lá depositados, idealmente depois de passarem por uma triagem, não agridam o meio ambiente. O impacto ambiental é evitado porque o aterro sanitário é concebido, em cada compartimento, para atuar como um instrumento de saneamento básico e proteção.
“Um aterro desse tipo tem várias premissas. Uma delas é não somente confinar o resíduo, mas na realidade, constituir vários biorreatores químicos microbiológicos de uma tal forma que as reações de digestão anaeróbica dos resíduos orgânicos façam com que essa matéria orgânica se converta em subprodutos (chorume e biogás) que, dotado de um sistema de drenagem interna de captura desses efluentes, possam enviá-los para todos os tratamentos necessários, além da possibilidade de geração de energia limpa e sustentável”. O engenheiro complementa que o aterro sanitário é construído para que haja garantia absoluta de todos os meios naturais, como o solo, a água e o ar, além dos fatores ambientais relacionados.
Fonte: Viasolo Engenharia Ambiental, 2019.
É importante mencionar que os aterros sanitários possuem um tempo de vida útil para a sua operação. Uma vez que esta capacidade é atingida e após a estabilização e a consolidação dos processos de biodecomposição e de geração de gases e líquidos, a área pode ser reflorestada e utilizada para outro fim, como um parque de lazer, reintegrando-o à paisagem e ao meio ambiente, mesmo tendo havido toneladas de matéria corretamente acondicionadas no subsolo e tendo passado por um processo sustentável de decomposição, propiciando um correto fechamento do ciclo da matéria e de energia.
Fontes:
Danthi Com,.
ELABORADO POR: Athâmis Hanna | Engenheira Ambiental e de Saúde e Segurança do Trabalho | CREA-MG 236079/D
Last modified: 13 de abril de 2023