Antes de adentrar no tema de hoje, vale a pena contextualizar nosso leitor, rapidamente, sobre o conceito de oceano azul. Deste modo, espera-se que todos tenham condições de compreender a mensagem que pretendemos repassar, provocando assim reflexões que inspirem novas ideias e oportunidades de negócio.
O termo Estratégia do Oceano Azul ou “Blue Ocean Strategy” nasceu das ideias de dois estudiosos de Harvard Business School, Cham Kim e Renée Mauborgne, em 2005. Os autores utilizam as metáforas – oceanos vermelhos e oceanos azuis – para falar da competividade e oportunidades de mercado.
Nos oceanos vermelhos, as fronteiras setoriais são bem delineadas e aceitas pelas empresas que concorrem naquele segmento, as regras mercadológicas são conhecidas, e há uma briga acirrada entre as organizações em busca de uma maior fatia daquele mercado. Em resumo, um oceano vermelho é um oceano tomado, onde as perspectivas de lucro e de crescimento são cada vez menores.
Os oceanos azuis são mercados inexplorados, seja pela criação de demanda ou pelo crescimento altamente lucrativo. É um mercado em formação, onde as regras do jogo ainda não estão bem formadas, visto que, neste mercado ainda não há competição.
Agora contextualizados em relação as metáforas mercadológicas, vamos fazer outra contextualização pertinente, aos resíduos. Conforme a Política Nacional de Resíduos Sólidos de 2010, resíduos são materiais, substâncias, objetos ou bens descartados, resultantes de atividades humanas, ou seja, são as sobras dos processos produtivos, as sobras das residências, ou estabelecimentos comerciais, como por exemplo as garrafas longuinetes descartadas após o consumo de cerveja.
A Política Nacional de Resíduos sólidos estabelece diretrizes para o descarte e/ou destinação adequada para os resíduos sólidos urbanos que são gerados pela sociedade, desta forma garantindo a mitigação dos impactos ambientais e diminuindo os riscos à saúde pública. A destinação correta dos resíduos inclui a reutilização, a reciclagem, a compostagem, a recuperação e o aproveitamento energético, a disposição final, entre outras.
Muitas das estratégias para destinação final dos resíduos são ainda muito pouco exploradas. Para se ter ideia, a média nacional de reciclagem no Brasil está na casa dos 3% (ABRELPE,2020), ou seja, 97% dos resíduos gerados no Brasil não são reciclados. Há aí um mercado a ser explorado, não só por meio da reciclagem, mas por meio das várias possibilidades de reaproveitamento e circularidade dos resíduos, possibilitando uma nova maneira de pensar a problemática dos resíduos.
Por que os resíduos são um problema? Por vários motivos, dentre eles pela nossa capacidade incrível de gerá-los e pela nossa incapacidade incrível de gerenciá-los. Segundo dados da ONU Habit (2018), por ano são produzidas cerca de bilhões de toneladas de resíduos no mundo. A situação se torna mais crítica pela rapidez que um produto se torna um resíduo. Ainda conforme relatório da ONU Habitat (2018), 99% dos produtos que compramos são jogados fora antes de 6 meses.
No Brasil, gera-se cerca de 80 milhões de toneladas de resíduos por ano, e enviamos para o aterro sanitário ou lixões cerca de 120 bilhões de reais por ano. Estamos jogando fora, bilhões de recursos que poderiam ser reinseridos no sistema produtivo, nos levando para uma perspectiva de vida mais sustentável para o planeta e seres vivos que nele habitam.
A questão é que o modelo econômico vigente não suporta mais as demandas por recursos naturais da sociedade, é preciso repensar a maneira como lidamos com nossos recursos, de modo a trazer mais sustentabilidade para a nossa forma de consumir. O modelo econômico vigente é denominado economia linear. Mas o que é uma economia linear? Um modelo econômico linear é aquele que tem suas bases na extração, fabricação, distribuição, uso e descarte. Neste modelo, ao final da vida útil os produtos são descartados, e em sua maioria vão parar no aterro sanitário.
Outro agravante a nossa incapacidade para gerenciar nossos resíduos é a escassez de recursos naturais. A escassez dos recursos indica que os modelos lineares de fazer negócios estão cada vez mais perto do seu limite. Alguns elementos importantes da nossa tabela periódica tendem a se esgotar em um período relativamente curto. (CNI,2018)
Frente a isso a gestão para a sustentabilidade vem ganhando mais força na agenda das empresas. A possibilidade de escassez de recursos tem ameaçado organizações que precisam se reinventar para continuar a colocar no mercado seus produtos e serviços.
A transição de um modelo econômico linear para um modelo econômico circular pode ser a salvação para esta crise de insustentabilidade que nossa sociedade já se encontra. A economia circular é uma economia regenerativa e seu foco é eliminar os resíduos do sistema, ou seja, uma economia circular visa redefinir o crescimento com foco em benefícios positivos para toda a sociedade. Implica no desacoplamento gradual da atividade econômica do consumo de recursos não renováveis e a eliminação dos resíduos do sistema. Seus princípios são: eliminar resíduos e poluição; manter produtos e materiais em uso; regenerar os sistemas naturais. (EMF, 2017)
Entendem agora o porquê de os resíduos serem o nosso oceano azul? Muitos negócios vão surgir para sustentar o novo modelo econômico já em transição. A indústria brasileira já está se movimentando neste sentido. Em 2018 a CNI (Confederação Nacional da Indústria) elaborou um documento [recomendamos leitura] que aborda o tema da economia circular, ressaltado as oportunidades e desafios para a indústria brasileira. Clique aqui e baixe o material da CNI sobre eonomia circular
O fato é, nós do segmento da limpeza urbana já possuímos um know-how na gestão dos resíduos sólidos urbanos que precisa ser ampliado. Precisamos evoluir nosso entendimento quanto a uma gestão de resíduos que acompanhe as novas demandas do mercado, oferecendo ao mercado serviços que contemplem as necessidades para um modelo econômico circular. O que sua empresa está fazendo no presente para aproveitar estas oportunidades que estão logo à frente?
Elaborado por: Aline Fonseca – Coordenadora do Programa Pades do SINDILURB
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Algumas fontes usadas nesta matéria:
BRASIL. Lei n. 12.305, de 02 de agosto de 2010. Política Nacional de Resíduos Sólidos. Institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos; altera a Lei n. 9.605, de 12 de fevereiro de 1998; e dá outras providências. Ministério do Meio Ambiente, 03 de agosto de 2010. Disponível em: < http://www.mma.gov.br/port/conama/legiabre.cfm?codlegi=636>. Acesso em: 29 de novembro de 2020.
NAÇÕES UNIDAS BRASIL. Humanidade produz mais de 2 bilhões de toneladas de lixo por ano, diz ONU em dia mundial. Disponível em: <https://nacoesunidas.org/humanidade-produz-mais-de-2-bilhoes-de-toneladas-de-lixo-por-ano-diz-onu-em-dia-mundial/
Last modified: 10 de dezembro de 2020